Thursday 31 May 2007

O Grande Dador

Lisa tem 37 anos e sofre de uma doença terminal. Lisa vai escolher, entre três pessoas com doença renal, aquela que merece receber o seu rim, para ser transplantada e, assim, sobreviver à doença. Tudo isto no novo reality show criado pela Endemol (produtora do Big Brother) e que deverá ir para o ar na próxima sexta-feira no canal holandês BNN.
A escolha será feita com base em conversas com familiares e na análise do perfil dos doentes (cuja cara e identidade nunca é revelada). Como se isto não bastasse, os telespectadores também terão uma palavra a dizer: o voto do público faz-se por SMS durante os 80 minutos do programa. Mas a decisão final cabe à doadora (vá lá...).
Esta é a nova ideia de loucos criada pela famosa produtora do Big Brother - a Endemol. O novo formato está a chocar o país e a Europa, e a lançar a discussão sobre os limites da televisão de entretenimento.
Face às (óbvias) críticas de que foi alvo, o director da BNN, cujo fundador morreu de doença renal (!), responde que o programa servirá para chamar a atenção para a falta de órgãos para doação na Holanda e defende que as probabilidades de os doentes receberem um rim num reality show "é maior" que no sistema de saúde. Ora eu gostava de saber é a probabilidade e o critério para um doente renal entrar no programa da BNN, facto que não foi esclarecido. Visto assim, tenho a certeza que as probabilidades pelo serviço nacional de saúde lá da Holanada devem ser bem melhores. Mas o mais grave não é isso. O mais grave é, nas palavras de Emídio Rangel, conhecido ex-director de programas da SIC, "explorar e lucrar com a condição humana no que é mais trágico". Mas as pessoas sujeitam-se a isto. Aceitam expôr a sua condição, vender a sua dignidade, em nome de uma empresa, tudo para "chamar a atenção para os problemas do sistema de saúde holandês". O canal de televisão apenas tem o privilégio de fazer o aviso. Será que iremos ver T-shirts com a cara de Lisa a dizer adeus? Ou canequinhas em forma de rim, com o logo do canal, para beber o café ao pequeno-almoço? Tudo, claro, como serviço público. Para alertar para os problemas do país. Como que ninguém se lembrou disto para Portugal?
Um país inteiro a torcer para que um doente terminal bata as botas, para poder doar os órgãos... Digam lá que não é uma ideia de loucos?

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